domingo, 30 de março de 2014

domingo, 27 de outubro de 2013

A caminho do essencial





A editora Les Sept Flèches lançou o livro Vers l'Essentiel: Lettres d'un Maître spirituel, o qual reúne cartas escritas por Frithjof Schuon a correspondentes de diversas denominações religiosas: cristãos, sufis, hindus, budistas e peles-vermelhas. Entre os destinatários mais conhecidos estão René Guénon, Titus Burckhardt, Martin Lings, Seyyed Hossein Nasr, Léo Schaya, Jean Borella, Marco Pallis, William Stoddart, Râma Coomaraswamy, Joseph E. Brown, Jean-Louis Michon, Michel Vâlsan e Lord Northbourne.

sábado, 24 de novembro de 2012

Sugestão de prenda para o Natal




Com a aproximação do Natal, deixamos como sugestão de prenda esta belíssima obra da editora de livros para criança e jovens Wisdom Tales. Este livro reúne passagens seleccionadas dos Evangelhos para criar um conto de Natal que relata o nascimento e a infância de Jesus, incluindo a Anunciação, a Visitação, a adoração dos Reis Magos, a Apresentação no templo, e a fuga para o Egipto, e também o inspirador Sermão da Montanha. O livro só existe, até ao momento, em língua inglesa, mas as passagens seleccionadas estão identificadas e é muito simples constituir o conto com a ajuda de uma versão portuguesa da Bíblia.

Este livro de qualidade superior, que bem poderá tornar-se uma leitura clássica para um Natal em família, contém reproduções magníficas de pinturas, esculturas, iluminuras e vitrais de todo o mundo, que ilustram de forma brilhante o relato. Uma prenda que certamente fortalecerá o espírito de Natal dos mais pequenos, mas também o dos graúdos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Olho do Coração (Chante Ishta)

Para além do livro que resultou da interacação de Hekaka Sapa com o poeta John Neihardt no início da década de 1930, Alce Negro Fala, deixamos também nota de uma outra obra repleta de ensinamentos espirituais da religião dos Indíos Sioux, tal como transmitidos pelo mesmo Alce Negro a Joseph Epes Brown, duas décadas depois.
Aqui fica uma pequena mas profundíssima passagem, bem como o indíce da primeira edição do livro na língua francesa (1953).


É o desejo do Grande-Espírito que a luz entre nas trevas para que nós possamos ver não apenas com os nossos dois olhos, mas sobretudo com o Olho único que está no Coração - Chante Ishta - com o qual nós vemos e conhecemos tudo o que é verdadeiro e bom.

(em Hehaka Sapa: Les Rites Secrets des Indiens Sioux, Payot, Paris, 1953, p.69)






Table de matiêres:

Avant Propos (Joseph Epes Brown)

Introduction (Frithjof Schuon)

Préface de Hékaka Sapa (Wapiti Noir)

I. La Descente de la Pipe Sacrée

II. La garde de l'ame

III. Le rite de purification

IV. Límploration d'une vision

V. La danse du soleil

VI. L'apparentage

VII. Préparation de la jeunne fille aux devoirs de la femme

VIII. Le lancement de la balle

(ver também The Sacred Pipe: Black Elk's Account of the Seven Rites of the Oglala Sioux, University of Oklahoma Press, 1953)

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O que é Jesus? Ele é o Sermão da Montanha *


Pode-se (...) ler toda a Bíblia, do livro do Gênesis ao Apocalipse de São João, do Cântico dos Cânticos de Salomão e dos Salmos de Davi às cartas de São Paulo, mas não se encontrará algo que supere a sabedoria do Sermão da Montanha. Não parece haver, de fato, em toda a Sagrada Escritura, uma seção que concentre maior número de doutrinas e conselhos espirituais perenes e universais. Boa parte de tudo aquilo que o leitor da Bíblia dela se recorda deriva do Sermão: o Pai-Nosso; as bem-aventuranças; o sal da terra e a luz do mundo; a porta que se abre a quem bate; as “pérolas” que não devem ser lançadas aos profanos; os “tesouros” a serem acumulados no céu; o oferecimento da outra face etc. E o ponto mais formidável de todos: o amor aos inimigos. Não foi à toa que Santo Agostinho chamou o Sermão de “regra perfeita” da vida virtuosa [1].



Fonte inesgotável de instruções espirituais e morais, o Sermão é o cerne dos Evangelhos. Vamos mais longe ainda: é a quintessência de todo o Cristianismo. Num poema, Frithjof Schuon pergunta: “What is Jesus?” E responde: “He is the Sermon of the Mount” [2].
* Excerto do artigo O Sermão da Montanha segundo a filosofia perene (Mateus Soares de Azevedo, Interações, 7 11, pp. 77-86, 2011)
[1] Em De Sermone Domini in monte (Edições Santo Tomás, 2003. Tradução de Carlos Nougué).
[2] “Que é Jesus? Ele é o Sermão da Montanha.” em: Songs without Names IX (EUA: World Wisdom, 2006).



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Alce Negro e a Rainha Vitória


Alce Negro (1863-1950) foi um lider espiritual dos Oglala Sioux e um homem de medicina. Foi baptizado em 1903 e não encontrou nenhuma contradição entre as suas tradições tribais e o catolicismo tradicional de então.

Alce Negro ditou a sua autobiografia ao poeta John Neihardt em 1930. O resultado foi um dos melhores e mais acessíveis clássicos da espiritualidade dos tempos modernos, que ademais comunica a poderosa mensagem universal e intemporal da sabedoria ameríndia, tal como acontece, por exemplo, com as Cartas do Shaykh Darkawi no caso da mística islâmica ou com os Relatos do Peregrino Russo no caso do cristianismo em geral, e do hesicasmo em particular.

Aqui fica uma pequena passagem deste muito recomendado épico histórico e espiritual, que relata o encontro entre o Alce Negro e a Rainha Vitória durante um dos espectáculos do "Buffalo Bill's Wild West Show" em Inglaterra, no ano de 1887. 

Dançámos e cantámos, e eu era um dos dançarinos escolhidos pela Avó, porque era jovem e ágil e podia dançar de muitas maneiras. Nós estávamos defronte da Avó Inglaterra. Ela era baixa e gorda e nós gostávamos dela porque ela era boa para nós. Depois de dançarmos, ela falou-nos. Disse algo do género: “Tenho 67 anos de idade. Vi todo o tipo de povos por esse mundo; mas hoje vi o povo mais bem-parecido que eu conheço. Se me pertencessem eu não permitiria que vos andassem a exibir desta maneira.” Ela também disse outras coisas boas, e depois disse que teríamos que a visitar, pois ela também tinha vindo visitar-nos. Ela apertou a mão a todos nós. A mão dela era muito pequena e suave.


(…) Meia lua depois fomos ver a Avó. (…) O vestido dela era todo brilhante e o chapéu dela era todo brilhante e a carruagem dela era toda brilhante e também os cavalos. Ela parecia um fogo a vir. Quando ela chegou onde nós estávamos, a carruagem dela parou e ela levantou-se. Então todas aquelas pessoas se levantaram e bradaram e fizeram-lhe vénias; mas ela fez uma vénia a nós. Enviámos um grande grito e as nossas mulheres fizerem o trémulo. As pessoas na multidão estavam tão excitadas que ouvimos dizer que algumas dela ficaram doentes e caíram. Depois, quando ficou calmo, cantámos uma canção à Avó.
Esta foi uma altura muito feliz.

in Black Elk Speaks, The Premier Edition, pp. 177-178 (ver também edição portuguesa)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Educação à luz da tradição



Quase todos os países do mundo moderno estão a “reformar” os seus sistemas de educação. Todavia, apesar dos enormes esforços e recursos aplicados no ensino e na aprendizagem, os ministros da educação modernos revêm constantemente os programas curriculares numa tentativa de decidir o que as crianças devem aprender.
  
O entendimento da natureza humana foi esquecido, a par com a perda de um sentido do sagrado e de uma ligação com o Princípio Divino. Estes aspectos essenciais  para o bem das crianças neste mundo e para o benefício dos seus fins últimos nunca são comunicados nem compreendidos. Nas sociedades tradicionais, a educação era um meio através do qual o conhecimento do Princípio Divino e da sua relação com a alma humana era transmitida às gerações mais jovens.

Education in the Light of Tradition é uma compilação de textos que aborda um tema raramente discutido nos círculos filosóficos e educacionais. Esta publicação da World Wisdom é um contributo para a redescoberta das verdades e dos valores nos sistemas de educação tradicionais e para o aclarar das dificuldades sentidas nos sistemas públicos de educação moderna.

O quarto número da Revista Sabedoria Perene, a publicar em breve, incluirá traduções de alguns artigos também considerados nesta publicação da World Wisdom. Damos também a conhecer os conteúdos desta excelente publicação:

Editorial

I. Education and the Human Condition

FRITHJOF SCHUON
The Triple Nature of Man

ANANDA K. COOMARASWAMY
The Bugbear of Literacy
TITUS BURCKHARDT
The Traditional Sciences in Fez

WILLIAM STODDART
The Role of Culture in Education
M. ALI LAKHANI
Education in the Light of Tradition: A Metaphysical Perspective

ENES KARIĆ
Moral Tuition and Education

II. Education in Traditional Societies
CHARLES EASTMAN (OHIYESA) & JOE MEDICINE CROW
Traditional Native American Education
JAGADGURU OF KANCHIPURAM
Traditional Hindu Education

MARCO PALLIS
Education in the Borderlands of Tibet

SACHIKO MURATA
Learning in the Confucian Tradition

WILLIAM C. CHITTICK
The Goal of Islamic Education

ANNE FITZGERALD-LO
Education in Sub-Saharan Africa

III. Dilemmas of Modern Education

MARTIN LINGS
Education at the Eleventh Hour
SEYYED HOSSEIN NASR
Modern Education: Its History, Theories, and Philosophies

LORD NORTHBOURNE
Intellectual Freedom

GHISLAIN CHETAN
Schools Adrift

IV. Solutions for Education Today?
 
JEAN BIÈS
Transdisciplinary Education: Profiles and Projects

JAMES S. CUTSINGER
The Once and Future College: Rose Hill in Theory and Practice
GRAY HENRY-BLAKEMORE
Educating Young Children Today: An Interview with Elena Lloyd-Sidle

Book Reviews

JANE CASEWIT
L’Ecole à la Dérive: L’Enseignement Actuel à la Lumière de la Tradition Universelle
by Ghislain Chetan

SAMUEL BENDECK SOTILLOS
A Spirit of Tolerance: The Inspiring Life of Tierno Bokar
by Amadou Hampaté Bâ

Notes on the Contributors  

Note on the Editor

sábado, 14 de julho de 2012

Educação na Décima Primeira Hora

Regressamos ao tema do próximo número da revista Sabedoria Perene, a Educação, com a publicação de um pequeno trecho de um dos ensaios que surgirão neste número, Educação na Décima Primeira Hora, um belíssimo texto de Martin Lings

Assinalamos o facto de esta tradução ser o fruto de uma nova colaboração com a revista, e que o mesmo nos traz grande alegria e incentivo para continuar com este trabalho de disponibilizar para a nossa língua as palavras cada vez mais urgentes destes autores. 

Anunciamos, ainda, que é nossa intenção disponibilizar este novo número da revista até ao fim do verão, se Deus quiser. 


“Então”, poderia perguntar-se, “o que devemos ensinar?” A resposta é: tanto quanto possível, a verdade completa, o que significaria ensinar muitas verdades que não foram ensinadas em épocas melhores, uma vez que as necessidades da décima primeira hora não são as mesmas que aquelas da sexta ou da sétima. A título de exemplo, permita-se ensinar aos jovens, no final da escolaridade, que muitos cientistas conjecturaram – mas em nenhum sentido provaram – que a Humanidade evoluiu a partir de uma espécie inferior. Esta conjectura é um incidente na história actual. Mas permita-se ensinar-lhes ao mesmo tempo que a teoria em questão, que apenas passou pelas mentes humanas numa época relativamente recente, é o exacto oposto não apenas daquilo que a Bíblia nos ensina, mas também da opinião unânime de todo o mundo pré-Bíblico em todas as partes do globo. Em particular, a tradição das quatro idades do ciclo temporal, do Ouro, da Prata, do Bronze e do Ferro, que dominou a perspectiva da antiguidade clássica, remontando às trevas da pré-história, foi também prevalente desde tempos igualmente recuados entre os Hindus e os Índios Americanos. Ou, para tomar apenas um aspecto da conjectura evolucionista, nomeadamente o de que a linguagem humana evoluiu a partir dos sons inarticulados dos animais, fazemos notar que muito embora a origem da linguagem esteja para lá da nossa capacidade de averiguação, a ciência linguística pode ainda assim conduzir-nos a um passado muito remoto, e ensina-nos que as línguas mais antigas são as mais complexas e majestosas, sendo ainda as mais ricas na variedade dos sons consonantais. Todas as línguas actualmente utilizadas derivaram de linguagens mais elaboradas, que foram simplificadas e, de forma geral, mutiladas e corrompidas. Involução, e não evolução, é também o destino do significado de muitas palavras. Todos os estudantes deveriam estudar a já referida degradação da palavra “intelecto”. É um facto científico que em todo o mundo antigo o conceito das faculdades humanas estava mais exaltado e tinha um alcance mais vasto do que hoje em dia. 

Deixemos que os conceitos tradicional e moderno do universo – ou, se preferirmos, da realidade – sejam colocados lado a lado. De acordo com o pensamento moderno típico, supõe-se que a “realidade” tenha sido constituída originalmente pelo mundo material, e apenas por este. Diz-se que a vida terá surgido de uma “centelha” a partir da matéria, de uma forma que está ainda por explicar, e que os organismos vivos foram desenvolvendo faculdades psíquicas, a começar pelos sentidos, depois os sentimentos e a memória, e por fim, à medida que o próprio homem evoluiu gradualmente, a imaginação e a razão. Do outro lado, de acordo com a explicação tradicional, não é o mais elevado que provém do menos elevado, mas o menos elevado que provém do mais elevado; nem está a existência limitada ao psíquico e ao físico. A Origem Suprema – e Fim – de todas as coisas é a Verdade Absoluta, que detém a única Realidade no sentido cabal da palavra, e que manifesta ou cria, em níveis inferiores da realidade, o todo da existência. A teoria tradicional da existência, comum a todas as religiões, é resumida na tradição sagrada do Islão: “Eu era um Tesouro Oculto, e desejei ser conhecido, e assim criei o mundo”. O psíquico e o físico, alma e corpo, são os dois níveis inferiores da realidade, e juntos constituem aquilo a que chamamos de “este mundo”. Sobre eles está o domínio do Espírito, conhecido como “o outro mundo” do ponto de vista da vida na terra, mas sendo primeiro na ordem da criação, porque constitui nada menos que o “transbordar” primordial da própria Realidade Divina. A partir deste reflexo imediato do Tesouro Oculto, o domínio psíquico é projectado como uma imagem que por sua vez projecta o domínio físico. A linguagem do simbolismo, que é parte da herança primordial do homem, baseia-se nesta hierarquia dos níveis distintos do universo. Um símbolo não é algo escolhido arbitrariamente pelo homem para ilustrar uma realidade superior; consegue fazê-lo precisamente porque está enraizado nessa realidade, que o projectou, como uma sombra ou um reflexo, no plano da terra. Cada objecto terrestre é o resultado de uma série de projecções, do Divino para o espiritual, do espiritual para o psíquico, do psíquico para o físico. Mas neste plano inferior, que é o mais afastado dos Arquétipos Divinos, e que, estando instalado no tempo e no espaço, sofre um extremo de diferenciação e de fragmentação, é necessário distinguir entre objectos periféricos, que não são mais do que pálidos e fragmentários reflexos, e os objectos mais centrais de cada domínio, ou seja, de cada subdivisão dos reinos animal, vegetal e mineral. O termo símbolo está reservado para aquelas manifestações mais directas que reflectem os seus arquétipos com maior clareza, tendo assim o poder de suscitar uma “lembrança”, no sentido Platónico, da verdade transcendente que é simbolizada.

Tradução de Sílvia Leite

domingo, 8 de julho de 2012

Fulgores de Fátima

por Pedro Sinde


Depois de uma primeira colaboração com o texto “O botão da perplexidade no caminho da flor”, o Pedro Sinde presenteou-nos com o primeiro de um conjunto de ensaios que pretende escrever em torno das aparições de Fátima. 

Gratos, partilhamos de seguida um trecho do texto que poderá ser lido na íntegra aqui.



Fulgores de Fátima, I

O escapulário e o rosário: duas armas para a ‘grande guerra santa’


Para J.-C. P.

As palavras que se seguirão procurarão reflectir sobre alguns aspectos, eventualmente menos notados, das aparições de Fátima. Estes textos não têm nenhuma ordem explícita, são apenas reflexões que procuram olhar para o tema das aparições a partir de diferentes ângulos, de modo a ir extraindo vários aspectos que nem sempre aparecem explicitamente; trata-se, afinal, de uma das grandes manifestações dos céus: as primeiras aparições do século XX e as maiores de que se tem conhecimento.

O leitor achará natural a referência ao rosário no título de um texto sobre as aparições de Fátima, no entanto, poderá espantar-se por aí se fazer referência explícita ao escapulário. Há várias razões importantes para isso, mas seria suficiente dizer que a Senhora do Carmo foi a última forma de que a Virgem se revestiu, na derradeira aparição, a 13 de Outubro de 1917, com o escapulário no braço direito; de resto, a importância atribuída ao escapulário foi reconhecida por Lúcia ao afirmar (bem antes de 1960) que o escapulário “é parte integrante da mensagem de Fátima” e ainda que “o Escapulário e o Rosário são inseparáveis” (Kyliano Lynch, Nossa Senhora de Fátima e o Escapulário). Podemos ainda lembrar estes dois elementos: por um lado, a veneração da Senhora do Carmo em Fátima é muito antiga e, por outro, a própria Lúcia acabou por entrar no Carmelo.
Nesta última aparição, a Virgem mostrou-se sucessivamente sob três aspectos: primeiro como Senhora do Rosário, depois como Senhora das Dores e, finalmente, como Senhora do Carmo, isto é, mostrou, de forma eloquente, três aspectos ou etapas vitais de qualquer caminho espiritual. Podemos dizer, entre outras coisas, que para chegarmos à paz do Carmelo, ao jardim da Virgem, ao Paraíso na Terra, começamos pelo fervor da crença (ou do conhecimento), representado no rosário, e que, com a sua ‘luz’ e com o seu ‘calor’, vai fixar o volátil e dissolver o fixo: por um lado, vai fixar a mente dispersa (agora cativada pela luz do rosário) e, por outro, vai dissolver a ‘dureza do coração’, os aspectos da alma que estão ‘endurecidos’, a insensibilidade, quer dizer, vai despertar a alma, retirando-a do sono e da passividade – ou do esquecimento – em que vive, introduzindo no seu dia-a-dia estes momentos de graça, de meditação, de oração, de invocação. Para a alma decaída, a transformação é, naturalmente, dolorosa.

sábado, 7 de julho de 2012

Palavras Trovão

Aqueles que sustentam o argumento evolucionista de um progresso intelectual gostam de explicar ideias religiosas e metafísicas através de factores psicológicos de natureza inferior, tais como o medo do desconhecido, a esperança pueril da felicidade eterna, o apego a um imaginário que nos é caro, o escapismo onírico, o desejo de oprimir os outros de forma fácil, etc; como pode alguém ignorar que tais suspeitas, apresentadas despudoradamente como factos demonstrados, implicam inconsequências e impossibilidades psicológicas que não podem escapar a qualquer observador imparcial? Se a Humanidade tivesse permanecido estupidificada durante milhares de anos, não é possível explicar como teria deixado de o ser, especialmente porque tal aconteceu supostamente num espaço temporal relativamente curto; e isto é ainda menos explicável quando se observa com que inteligência e heroísmo se foi estúpido durante tanto tempo, e com que miopia filosófica e decadência moral nos tornámos finalmente "lúcidos" e "adultos". 

Frithjof SchuonDu Divin à l'Humain 
 
Tradução de Sílvia Leite

domingo, 1 de julho de 2012

Relação mestre-discípulo – no Ocidente!



Aquele que instrui um candidato para a Dança do Sol é o tunkansila. Isto significa que é mais do que um avô. O candidato passa a ser como um recém-nascido. O seu instrutor dirige-o em tudo. Ele não deve fazer mais do que aquilo que o seu instrutor lhe diz. O instrutor pensa e fala por ele, e diz-lhe como pensar e falar. O instrutor estabelece as regras e o candidato deve obedecê-las com precisão. O instrutor torna-se o outro eu do candidato. 

- George Sword, Teton Sioux


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Se desejas que o teu caminho se encurte...

Se desejas que o teu caminho se encurte para que chegues rapidamente à realização, praticarás as obras de caracter “necessário” (al-wâjibât) e aquelas “supererrogações firmemente recomendadas” (ma taakada mîn nawâfili-l-khayrât); aprende da ciência exterior aquilo que é indispensável para servir Deus, mas não te detenhas aí, porque não se exige o seu aprofundamento; é a ciência interior que precisas aprofundar; e combate a cobiça; então verás maravilhas. O “caracter nobre” não é outra coisa senão a taçawwuf dos Sufis, tal como ele é a religião dos homens religiosos; e que Deus amaldiçoe aqueles que mentem! 

Também, fugir sempre à sensualidade [1], porque ela é o oposto da espiritualidade, e os opostos não se rejuntam. À medida que reforças os sentidos, enfraquecer-te-ás no espírito, e inversamente. Ouve o que aconteceu ao nosso mestre (que Deus esteja satisfeito com ele) no começo de seu caminho. Ele tinha acabado de malhar três medidas de trigo e fê-lo saber ao seu mestre, o senhor al-‘Arabî ben Ábd-Allâh, que lhe disse: “Se aumentas no domínio dos sentidos, diminuirás no do espírito, e se diminuis neste, aumentarás naquele”. Isto é evidente, porque enquanto te relacionares com as pessoas (mundanas), jamais sentirás nelas o perfume do espírito; não sentirás senão o odor do suor, e isto advém da sensualidade os ter subjugado; ela apoderou-se dos seus corações e dos seus membros: eles não encontram nenhum benefício senão nela, de maneira que só tagarelam, só se ocupam e só se rejubilam dela e dificilmente se desapegam dela; e todavia numerosos são aqueles que dela se desapegaram para mergulhar no espírito para o resto de suas vidas; que Deus esteja satisfeito com eles e que nos faça tirar proveito da sua bênção, Ámen, Ámen, Ámen! – É como se Deus (exaltado seja ele) não lhes tivesse dado o espírito (isto é, às pessoas mundanas), embora cada qual faça parte dele, assim como as ondas fazem parte do oceano. Se eles o soubessem, eles não se deixariam distrair pelas coisas sensíveis; e se eles o soubessem, descobririam neles mesmos oceanos sem limites; e Deus é a garantia do que dizemos. 

[1] Al-hiss, a sensualidade no sentido mais lato do termo, ou seja o apego à experiência sensível. 

in Lettres d'un maître soufi, Le Sheikh al-'Arabî ad-Darqâwî, Traduites de l'Arabe par Titus Burckhardt; Letters of a Sufi Master, The Shaykh ad-Darqâwî, Translated by Titus Burckhardt