quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O canto do Sol

Esta publicação poderá parecer como um registo algo diferente do habitual. No entanto, gostava de partilhar três coisas com os leitores do blogue. Um livro que estou a ler, um nascer do sol por detrás do Everest e um breve pensamento.

Estas três coisas, apesar de distintas, têm por origem o maravilhoso livro de Pedro Sinde que me veio pousar nas mãos, “O Canto dos Seres: Saudade da Natureza”, editado pela recentemente criada editora Serra d’Ossa Edições.


Quanto desejei ter o dom da escrita para perpetuar aquele momento em que senti verdadeiramente esse milagre diário, como a ele se refere o autor do livro, não só numa imagem mas também em palavras. Mas aquilo que senti nessa madrugada em Gorak Shep, está tão próximo das palavras de Pedro Sinde que ao lê-las me precipitei para essa imagem procurando reviver o momento, tão raramente apreciado no nosso dia a dia. É este o momento e são estas as suas palavras,


"No horizonte oriental, o nascente, vê-se uma luz esparsa, mal se percebe ainda o que virá. Os pássaros movimentam-se, ouço-lhes já o canto como um augúrio do novo dia. Ao fundo um rouxinol magnífico canta, o seu timbre puro reverbera quase sem obstáculo por distâncias imensas. O alvoroço toma os seres e eu mesmo sou tomado por um quê de frenesi, uma expectativa, uma esperança. É o momento do milagre e com o canto dos pássaros e a luz nascente, brota em mim o murmúrio de uma oração. A oração é o pensamento humano mais perfeito, o mais belo de todos; é onde as palavras recuperam toda a sua dignidade ascensional, é quando deixam de designar coisas, para serem a expressão de uma aspiração, do finito ao infinito, do particular ao universal, da criatura ao Criador.
Oro em voz alta, não é uma prece, pois não peço nada; é apenas um acto espontâneo de agradecimento e deslumbramento. As minhas palavras cruzam-se com o vozear dos pássaros e, no horizonte, unem-se à luz cada vez mais intensa."


Este livro parece dizer tudo o que precisa ser dito. Tenho um desejo infantil de o oferecer a todos quanto conheço.

Finalmente, atrevo-me a deixar-vos um pensamento, também fruto da sua leitura.

Soltam os olhos doces lágrimas quando a alegria que transborda a alma não cabe no frágil corpo; expelem em convulsão amargas lágrimas quando a tristeza que pressiona a alma o ameaça estilhaçar, pois este também não a pode conter. Outras há, subtis lágrimas, que brotam quando o corpo e a alma são invadidos por Essa Infinitude que não cabe em parte alguma.

1 comentário:

  1. Após a leitura do livro do Pedro Sinde fui precisamente tomado por esse "desejo infatil" de que fala... Ainda ofereci alguns exemplares a amigos e amigas que prezo muito. É, de facto, um livro luminoso.

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